terça-feira, 10 de abril de 2018

Angra - Ømni (2018)

Angra - Ømni

Angra - Ømni (2018)
(earMUSIC/Shinigami Records - Nacional)


01. Light of Transcendence
02. Travelers of Time
03. Black Widow's Web (feat. Alissa White-Gluz)
04. Insania
05. The Bottom of My Soul
06. War Horns (feat. Kiko Loureiro)
07. Caveman
08. Magic Mirror
09. Always More
10. ØMNI - Silence Inside
11. ØMNI - Infinite Nothing

Antes de tudo, farei algumas considerações. Incomoda-me demais a forma como o fã de Metal no Brasil trata suas bandas. Existiu uma época na qual dizíamos que o brasileiro só dava valor a uma banda nacional quando a mesma ganhava reconhecimento e respeito no exterior. Hoje em dia, ouso dizer que nem isso, já que nem mesmo estas escapam das pesadas críticas. Parece que muitos headbangers por aqui sofrem com dois graves problemas, o complexo de vira-lata e o saudosismo agudo. Para esses, se é nacional, não presta, e as bandas deveriam repetir eternamente as batidas fórmulas dos anos 80 e 90, lançando o mesmo álbum por toda a carreira (poucas são, a nível mundial, as que podem se dar esse luxo).

Veja o caso do Angra. Obstante todas as turbulências e mudanças de formação que passaram em mais de 25 anos, continuam altamente respeitados no exterior, e vivendo para muitos uma de suas melhores fases. Ainda assim, é possível encontrarmos por aqui pessoas que criticam pesadamente a banda. Se a crítica fosse unicamente pelo aspecto musical, ok, afinal, ninguém é obrigado a gostar de uma banda apenas por ela ser respeitada lá fora (e aqui entram sem problema algum aqueles que lamentam por eles não se limitarem a lançar cópias de Angels Cry (93), Holy Land (96) ou Rebirth (01)), mas a verdade é que quase sempre as mesmas se dão por questões alheias à sua música.

Já vi pessoas criticando a banda pelo seu profissionalismo, por ela querer levar sua música a outros públicos, seja através de participações em eventos populares ou convidando músicos de outros estilos para participações especiais, ou simplesmente pelo músico X ou Y não estar mais na banda, como se fossem insubstituíveis. Até que Fabio Lione, que é tranquilamente um dos maiores vocalistas da história do Power/Prog, é um vocalista limitado, já vi falarem por aí. Vivemos a era dos Haters, onde o importante é simplesmente falar mal e despejar seu ódio contra algo, mesmo que sem critério algum. Uma prova disso é que antes mesmo de Ømni sair, já era possível ver pessoas falando mal do álbum sem nem mesmo ter escutado uma simples nota do mesmo.


Quando do lançamento de Secret Garden (15), o Angra vinha de uma fase turbulenta, com dois trabalhos que não eram dos mais empolgantes (ao menos para mim), Aurora Consurgens (06) e Aqua (10), um rompimento complicado com o baterista Aquiles Priester, e a saída do vocalista Edu Falaschi. Talvez por não se esperar tanto da banda naquele momento, o álbum acabou surpreendendo por sua profundidade, peso e modernidade. Foi um trabalho sólido, onde lançaram as bases para uma nova fase que estava por vir, trazendo definitivamente seu Power/Prog Sinfônico para o século XXI. Ok, não podiam imaginar que perderiam Kiko Loureiro para o Megadeth, mas ali estava o futuro musical da banda.

Nesse ponto, ØMNI não só é a continuação natural de Secret Garden, como possivelmente é seu trabalho mais ambicioso. Se já haviam colocado um pé fora da sua zona de conforto (e da dos fãs, claro), aqui trataram de colocar o outro, pois podemos ouvir um Angra mais complexo, com maior musicalidade, técnica e peso, e claro, sem medo de experimentar e diversificar sua música. Ao mesmo tempo em que temos momentos totalmente voltados para aquele Power Metal típico, ou seja, veloz e melódico (mas soando muito atual), também temos um maior apelo Prog. É também seu álbum mais pesado. Admito, não é álbum fácil, que se pega com um par de audições, já que ele nos exige muito mais, mas quando você se permite escutá-lo de cabeça aberta e sem opiniões preestabelecidas, ele ganha um novo brilho. E foi isso que ocorreu comigo.

O que temos aqui são 11 canções que soam acima da média, onde o Angra mescla com a competência mais que habitual Power, Prog e Metal Sinfônico (na medida certa, sem os exageros que ouvimos por aí), com passagens de Fusion e elementos percussivos que enriquecem demais o resultado final. Fábio Lione mostra o porquê de ser um músico diferenciado e respeitado dentro de seu estilo. Sua voz soa forte e consegue dar agressividade e emoção às canções. Rafael Bittencourt também se sai bem nos momentos em que assume os vocais, se mostrando bem sólido e agradando bastante. Além disso, ao lado de Marcelo Barbosa, executa um trabalho magistral nas guitarras, com riffs fortes, pesados, além de ótimos solos. Felipe Andreoli mostra a competência habitual no baixo, formando uma parte rítmica muito técnica e variada ao lado do ótimo Bruno Valverde.


A sequência de abertura é daquelas que vai fazer a alegria de qualquer fã de Power Metal. “Light of Transcendence” é veloz, com ótimas melodias, riffs pesados, possui um refrão cativante e tem uma utilização perfeita dos elementos sinfônicos (os arranjos no álbum ficaram a cargo de Francesco Ferrini, do Fleshgod Apocalypse). Já “Travelers of Time” até engana com os elementos percussivos do seu início (muito bons por sinal), para depois seguir uma linha mais tradicional. Os vocais de Fábio estão ótimos e Rafael surge como um diferencial interessante na parte final da canção. Definitivamente, uma canção épica. “Black Widow's Web” merece uma atenção especial, pois é uma faixa que causou bastante polêmica por contar com participação especial de Sandy. Ao que parece, para alguns ter uma cantora de apelo popular em uma canção faz da mesma algo ruim. Não vou negar que em um primeiro momento essa é uma canção que causa certo estranhamento, mas de forma alguma isso se dá pela participação da referida cantora. A questão é que aqui o Angra resolveu pensar um pouco “fora da caixa”. A participação de Alissa White-Gluz dá à mesma um nível de agressividade e peso que não é padrão em se tratando da banda, fazendo dela uma música intensa, escura e diferente de tudo que a banda já fez. É um dos destaques de Ømni.

O lado Prog Metal dá as caras na ótima “Insania”, que possui boas melodias, algumas passagens mais pesadas e um dos melhores refrões de todo o álbum. “The Bottom of My Soul” é a primeira balada do álbum e conta com os vocais de Rafael, que se sai muito bem. Tem um ar mais dramático e se destaca pelo bom solo. O Power Metal volta a dar as caras com a ótima “War Horns”, que conta com vocais fortes, um refrão que cativa e ótimo trabalho de guitarras. Por sinal, conta com a participação de Kiko Loureiro. “Caveman” tem uma pegada mais experimental, com forte utilização de percussão e parte da letra cantada em português. Sua pegada é mais Prog, e após o estranhamento inicial, se torna uma das faixas mais interessantes aqui presentes. Por falar em Metal Progressivo, em “Magic Mirror” o estilo domina por completo, com boa dose de complexidade, um trabalho muito legal de guitarras e uma pitada de Dream Theater. “Always More” é a segunda balada aqui presente, soando bem emocional e fugindo um pouco do trivial, além de belos vocais. Fechando o álbum, a dobradinha “ØMNI - Silence Inside”, com sua combinação perfeita de Power e Prog, melodias cativantes, boas passagens percussivas e riffs poderosos e a instrumental “ØMNI - Infinite Nothing”, com melodias de todas as canções anteriores.

Como em time que está ganhando não se mexe, na produção repetiram a escalação de Secret Garden, com Jens Bogren cuidando da produção e mixagem e Tony Lindgren sendo o responsável pela masterização. O resultado não é menos do que excelente. Já a capa foi obra de Daniel Martin Diaz, com o layout e artes adicionais feitos pelo brasileiro Gustavo Sazes. Acompanha a alta qualidade da música. Se Secret Garden estabeleceu as bases para o futuro do grupo, Ømni vem para consolidar de vez sua proposta para os próximos anos. Os haters de plantão podem bradar aos quatro ventos, babando de ódio, que o Angra acabou, mas como uma fênix, ele insiste em renascer de suas cinzas, turbulência após turbulência. Você pode gostar ou não do trabalho da banda (pelo aspecto musical), mas o respeito à importância da mesma para a história do Metal no Brasil é algo essencial. E que venham muitos outros grandes álbuns por aí.

NOTA: 90

Angra é:
- Fabio Lione (vocal);
- Rafael Bittencourt (guitarra/vocal);
- Marcelo Barbosa (guitarra);
- Felipe Andreoli (baixo);
- Bruno Valverde (bateria).

Participações Especiais:
- Alissa White-Gluz (vocal em “Black Widow's Web”);
- Sandy (vocal em “Black Widow's Web”);
- Kiko Loureiro (guitarra solo em “War Horns”);
- Francesco Ferrini (orquestrações);
- Alessio Lucatti (teclados);
- Nei Medeiros (teclados em “Insania” e Always More”)
- Tiago Loei (percussão em “Insania");
- Dedé Reis (percussão em "Travelers of Time", "Black Widow's Web", "War Horns" e "Caveman")
- Wellington Sancho (percussão em "The Bottom of My Soul", "Magic Mirror", "Always More" e "ØMNI - Silence Inside")

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